Gastronomia de pobre
Uma das maiores vantagens em ser pobre é o cardápio sempre
variado, com ótimas opções a cada dia.
Tem coisa melhor que um “torremo” com angu? Rico nem deve saber o que é isso,
só comem aquelas comidas frescas, lagosta, escargot, caviar... O pobre de vez
em quando se dá ao luxo de comer um camarão na “muranga” com requeijão. O bom
mesmo é arroz com suã, feijoada, galinhada, dobradinha (aquela que tem cheiro
de esgoto quando tá fazendo) e as famosas “salchichas”. Todo pobre quando vai no
açougue, pensa primeiro na salsicha, pois dá pra fazer de tudo com elas. É purê
com salsicha, macarrão com salsicha, cachorro quente pra criançada e também a típica
“pastinha de salchicha”, que é tipo um patê pra passar no Cream Cracker. Pobre
adora cream cracker.
Pobre é competitivo
Já viu pobre em liquidação de loja? É uma farra só. É
naquele momento que você percebe o espírito de competitividade de um pobre meu
amigo. É roupa voando pra cá, eletrodoméstico voando pra lá, com direito a
unhadas, dentadas e xingamentos a mãe, nesse momento tudo pode. Mas a
competição na verdade começa antes da abertura da loja, pois o pobre dorme na
porta da loja um dia antes da liquidação. Leva barraquinha, isopor cheio de
sanduíche de “mortandela” e suco de caju, “por que suco de laranja amarga de um
dia pro outro.” Na hora que a porta da loja abre é o verdadeiro caos instalado.
Aquela pobraiada se engalfinhando e se empurrando pra entrar. É provável que em
alguns anos, Liquidação de loja seja uma nova modalidade olímpica. Vou nem
comentar quando tomba um caminhão com guloseimas na pista!
Neologismos do pobre
Uma coisa que acho super interessante é o dialeto único
usado pelos pobres. Em anos e anos de adaptação, os pobres criaram sua própria
forma de se comunicar. Uma característica desse dialeto é a mania de colocar
letras onde não existe. É um tal de “adevogado” da família, o bebê que “naisceu”
semana passada, o filho que “intochicô” com a comida. Também temos o método de
substituição de letras, que é até mais comum. Tem a mãe que usa a “bassoura”
pra “barrer” a casa, o pai que torce pro “Framengo”, o filho que não pega
direito no “galfo”, porque não sabe usar o “celebro”. E uma coisa corriqueira
na linguagem do pobre é não conhecer o plural das palavras. Mãe, me dá dois “real”?
Não vai dar filho, o dinheiro tá contadinho pra comprar cinco “pão”. O dialeto
é extenso e complexo, nem dá pra falar tudo num único post, mas ainda temos
fusões de palavras, como “lidileite”, ou até mesmo a invenção de novíssimas
palavras. Minha vó dizia que quando a gente comia muito, tava comendo de “invição”,
eu nunca soube o que é “invição”.
Casamento de pobre
O casamento de pobre é um evento memorável, pois é o momento
máximo de unir os parentes que surgem de tudo quanto é buraco, igual em
velório. Na igreja é aquele encontro das
tias velhas que só ficam fofocando no fundão, aqueles priminhos chatos que
querem aparecer em tudo quanto é foto e aquele resto de parente que você mal
conhece que só tá ali por causa da festa. Mas o ápice mesmo é a festa, com
aquele bolão de côco, recheado com uma pasta de doce de leite com pêssego em
calda e aquela mesa abarrotada de cajuzinho, beijinho e brigadeiro. Nas opções
de salgado, novamente nos deparamos com as coxinhas e risoles. Na festa de
casamento, o pobre se dá ao luxo de abrir uma garrafa de champagne, isso mesmo,
só uma, geralmente quem bebe dessa garrafa são só os noivos e quem sabe os
padrinhos, o resto dos convidados fica na boa e velha cerveja mesmo, que dessa
vez não é servida em copo de requeijão, mas sim em jeitosos copinhos de “prástico”!
Pobre é criativo
A criatividade do pobre não tem limites. Pobre inventa
solução pra tudo. Sumiu a tampa do refrigerante? Sem problemas, pega uma colher
e enfia na boca da garrafa “pra não escapar o gás”. Ouvido tá sujo? Usa a chave
da Brasília pra limpar, se não tiver carro, usa a tampa da Bic que certamente
tá pendurada no bolso da sua camisa. Acabou suas “tapoué?” Bota o feijão no
pote de sorvete mesmo, que é usado pra quase tudo, bolachas, farinha, dar comida pro
cachorro. Mas as invenções é que são mais interessantes, as famosas gambiarras.
Mas essas invenções são tão geniais que não consigo nem explicar, é melhor
vocês verem alguns exemplos mesmo.
Por hoje é isso aí pessoal. Não viu a primeira parte? Clique AQUI.