Sexta feira chegou,dia de arrancar a gravata, o sapato
social, brigar com a namorada pra ter uma desculpa pra sair sozinho e se jogar
nas dorgas (lícitas é claro).
Ruim mesmo é para os casados, com quatro filhos remelentos
na aba. Pra esses a sexta feira é um
pouco diferente.
Chega em casa depois do trabalho, e já vê a mulher dando banho
nos “minino”, dizendo que quer sair. Aí começa a aventura de um pobre, que tem
que usar todas as suas habilidades adquiridas em anos de Tetris pra enfiar a
mulher e a filharada dentro do fusquinha azul claro. Vai todo mundo apertado
atrás, tudo roxo de falta de ar. Passa no posto e enche “10 real de gasolina” e
parte pro rodízio (pobre tem mania de rodízio). O pobre pai envergonhado, com pouco
dinheiro na sua carteira gasta de time de futebol, fica desesperado quando vê
as crianças pedindo cada uma um tipo de refrigerante diferente, aí tem que
falar “calma gente, pede um de dois litros que rende mais!”. A mãe só concorda,
pois é outra que não tem um puto na bolsa de crochê. A diversão consiste em
falar mal do povo no restaurante. “Sabe a Deusdete? Pois é, vai ser despejada,
o marido perdeu o emprego por causa de bebedeira!” e esses tipos de fofoca, geralmente
direcionando também pro povo do restaurante, “Olha lá o Denilson chifrando a
mulher dele de novo, e a coitada em casa doente!” Pobre tem mania de falar dos
outros mesmo, é inato. Tudo é interrompido quando um dos filhos entala com um
naco de carne e o outro pra ajudar derruba o refrigerante. A mãe bate nas
costas do pirralho e forra a mesa com guardanapo “pra não vazar e sujar a roupa
dos minino! Lavei roupa hoje!” Enquanto isso tem outra fofoqueira em outra mesa
“Olha lá que falta de crasse!”
A noite do pobre
resume-se nisso minha gente, com o pai percebendo ao final que não tinha
dinheiro suficiente pra pagar a conta e passando no crédito do cartão das casas
Bahia, só aumentando a dívida já adquirida. Ser pobre até que é divertido.